terça-feira, 17 de junho de 2008

Sossega, coração!


Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.

Fernando Pessoa

1 comentário:

Anónimo disse...

Os génios (quase todos, se não todos), são um bocado malucos.
A loucura e a genialidade andam de mãos dadas.
Já estou como diz a mana,
Como foi possível ele ter criado tantos heterónimos com data de nascimento e tudo, e pô-los a falar uns com os outros como se de pessoas individuais se tratassem?
Eu cá por mim volto ao Shrek.
“Cebolas têm camadas, ogres têm camadas!”
Fernando Pessoa conseguiu como ninguém pôr as suas “camadas” à conversa.
As pessoas são o conjunto de “várias” pessoas, ele distingui-as e deu forma às várias pessoas que era.
Mas quem sou eu para me pôr a falar, que eu não percebo nada disto.
“... mas mais do que isto,
É Jesus Cristo
Que não sabia nada de Finanças
E nem consta que tivesse biblioteca.”
(parte final do poema “liberdade” de FP)