sexta-feira, 6 de junho de 2008

A minha vida é um barco abandonado

A minha vida é um barco abandonado
Infiel, no ermo porto, ao seu destino.
Por que não ergue ferro e segue o atino
De navegar, casado com o seu fado?

Ah! falta quem o lance ao mar, e alado
Torne seu vulto em velas; peregrino
Frescor de afastamento, no divino
Amplexo da manhã, puro e salgado.

Morto corpo da acção sem vontade
Que o viva, vulto estéril de viver,
Boiando à tona inútil da saudade.

Os limos esverdeiam tua quilha,
O vento embala-te sem te mover,
E é para além do mar a ansiada Ilha


Fernando Pessoa

1 comentário:

Anónimo disse...

Há por aí tanto, tanto livro com “receitas mágicas”...
Mas não há nenhum, nenhum capaz de magia verdadeira, daquela que com umas palavras mágicas fazem aparecer um coelho de dentro de uma cartola, ou a ansiada ilha para além do mar.