segunda-feira, 31 de março de 2008

A outra margem


Corre o tempo devagar...

Corre o tempo devagar e encadeado
Sublinha meu corpo incandescente
Para além do que é importante e relevante
Vai o sol me cobrindo de solidão

Sabe Deus o que me vai na alma
Meu corpo a saborear tal sentido
Correndo meu sonho lento
Com gosto de fervor o pedido.

Em caso que me chega a recuar
Corre-me nas veias o sangue e a secura
De um monstro que vagueia na escuridão
Que leva meu destino à desventura…

E este tempo que devagar vai formigando
Sentido não tem de o saber
Como o sol que penetra neste ser
Vai meu corpo neste sol vagueando…

Súplica

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

Miguel Torga

domingo, 30 de março de 2008

Isto

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está de pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!

Fernando Pessoa

Faixa de Corais


Chichen Itza- México


Eleita uma das Novas Sete Maravilhas do Mundo.
Mas, sem dúvida, a melhor maravilha do mundo, trouxe-a comigo...

sábado, 29 de março de 2008

Desfez-se em cinzas

Desfez-se em cinzas o que não foi nada...
Apagou-se a luz...terminou a estrada.
Quebrou-se o silêncio...Perdeu-se a magia.
Pássaro que cantou... Passou o dia.

Agora, vejo-me sozida, absorta...
Leva o vento as cinzas que se perdem
Não é nada meu...não posso opinar!
Cala-se-me a voz...escuto o pesar.

Regresso à paz inquieta...
Verdade que doi...vazio que aperta.
Luar que deambula...Noite incerta.

Esquecer?!...O quê?! Se nada foi...
Estou louca?...Há quem o diria...
Acordo, com o sabor da tua boca!...

quinta-feira, 27 de março de 2008

Mais um ano...

Canto aqui o teu valor
Sem pudor, com louvor, sem medida:
Sincera, honesta, leal, bondosa, simples e natural,
Minha irmã, minha amiga!

Pudera eu conseguir escrever o que só o meu coração aguenta...
Dizem-me que sou diferente
Alegre, bem disposta, boa gente
Só eu... não sei que pensar

Não estou no meu lugar
Sozinha, perdida sem dono
Só eu sei o quanto sonho
À minha paz regressar...

Aos teus olhos sou infiel
O meu amor é como fel.
Minha alegria, minha paixão
Não tem engano, não tem perdão.

Quem sou eu afinal?
Amiga, sentida sem sal
Liberta da sombra esquecida
Amada, cansada, sofrida...Diz-me!

Diz-me agora não tenhas medo,
Que neste sentimento de revolta
Sou assim uma alma à solta
Que em teus braços busca sossego...

quarta-feira, 26 de março de 2008

Tua voz

Ouço tua voz…
Leva-me ao passado, recatado, do antes do agora
Quando te abraço, meu coração não tem sossego e me alegro!

Gosto, não gosto, a solidão permanece
Mas não escurece, abre-se a luz ao deitar,
no pensar, na minha dor!

Amor! Quanto gosto de ti!
Queria dizer-te isso agora, mas lá fora, todo o mundo é outro e, nesse outro…
Eu não existo, simplesmente resisto à ilusão de te ter!
Quem me dera pudesse ser assim… sempre
Tua voz perto de mim.

Saudade

Saudade...
Saudade do mar sereno
Saudade do meu corpo pequeno
Inocência que passa
Vida que não volta
Pássaro que voa
Sem rumo, sem destino
Vida boa, vida de menino.
Saudade...
Saudade do amanhecer
Saudade do acordar
Saudade de crescer
Saudade de sonhar!...

segunda-feira, 24 de março de 2008

Largo pranto

Largo pranto que não se acaba
Escondido, por alcançar
Os meus desejos que andam perdidos
Por estas águas em alto mar...

E este vento que me abraça
Por terras de imensidão
Como uma gaivota que por onde passa
Revela o sentir a minha ilusão.

Daqueles que quebraram o meu encontro
Guardo o amor silenciado
Onde reflete o sol enfeitiçado
Neste poder que trago solto...

E desta calmaria ao meu regresso
Sonho um voo alto a pairar
Meditando sobre estas águas,
O mergulho que posso dar!

Voar

Queria voar!
Liberdade para voar…
Sentir o vento soprar e
Perder-me, sair deste lugar
Para poder pensar, pensar, em nada…

sábado, 22 de março de 2008


Primavera

Primavera do meu sonho...
Rebento que desponta
Em completa inocência
No orvalho da manhã.

Lume claro que sustenta
A fantasia da noite
Cuidado...Não sei se toque...
Loucura... Não sei se pare...

Ânsia de viver, tamanha paixão!
Vento que sopra, que agita a fumaça
Estrela que luz em minha mão...

E dentro de mim, surge a vontade
De voltar à inocência...Beijar como quem colhe...
Que eu não sei se rio...Que eu não sei se chore...

sexta-feira, 21 de março de 2008

Dia da Poesia

Vaidade
Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho... E não sou nada!...

Florbela Espanca

quinta-feira, 20 de março de 2008

Quem sou eu

Quem sou eu não me importa
Quem me olha e não me vê, que importância tem?
Se sou eu que fujo de quem me olha
Se sou eu que não sou ninguém...

Vejo em alguns o desejo de me entenderem
Para quê, se nada sirvo, para onde vou
Passa por mim a vida a correr
Quebro o silêncio do nada, de quem eu sou!...

E agora sou a página esquecida
Aquela que passa a vida adormecida
Como quem sonha que um dia há-de voltar.

Se é assim que me importa a gente
Que me olha, que sou indiferente
Se não me reconheço no meu lugar!

Perdida em ti

Perdi... Já não sei quem sou...
Vagueio pelas ruas inquieta
Que importa?...Que importa para onde vou,
Se só em teus braços a porta aberta!

Saudades, de quem que sinto agora?
Meus olhos se fecharam não sei porquê
A ternura que me embalava, onde mora?!
A luz que se apagou, ninguém te vê!

Mas sinto em mim que ando perto,
De encontrar o céu aberto
De esquecer onde me perdi...

Pois, onde me leva o esquecimento,
Que é tão inconstante como o vento
Cada vez mais perto de ti...

quarta-feira, 19 de março de 2008

Coração apertadinho

Onde se guardam tantas recordações
Tantas emoções, tantos sentimentos, onde
Metade deles são tormentos, frustações e ilusões e mais metade da outra metade, saudades, medos e agonias…
Onde ficam as alegrias, os momentos bem passados, de lazer, prazer e satisfação, num quarto bem fechado...
Mas nesta vida tão agitada, quem diria…
Poder ver e viver, num só dia, tanto Amor tanta Alegria!

terça-feira, 18 de março de 2008

Ausente

Bate-me o sol pela janela, quente e de mansinho
Em sítio que me enfadonha o estar
Problemas que se discutem sem sentido
E o sol que me ilumina, meu despertar

Discutem-se razões, sem razões, sem meu interesse
Que meu lugar, não tem sossego, neste saber
Sou eu que estou lá fora, a gozar deste quentinho
Aqui só o meu ser está presente sem o valer

À minha porta vão batendo tantas dúvidas…
Que meu problema vai gerando tantos ramos
Em cada parte que vou não me reconheço
Sou saudade que vai gerando tantos danos.

Vai varrendo, lavando a minha alma…
Este sol que vai fugindo, abrir-se-à em harmonia…
E o meu valor vai-se esfumando, neste sentido, neste lugar, sem alegria…
Cada dia que vai passando, cada sol que vai caindo!...

Valerá a pena?

Diz-me Amor se vale a pena
Aguentar esta dor no meu peito
Esperar a cada dia pelo direito
Fingir este estar calma e serena.

Falo de ti às pedras, ao sol, ao vento
Conto-lhes os anseios, o cansaço, os desejos
E se pudesse, a toda a gente desses teus beijos
Que me queimam e me agarro como alento.

E é tão triste sentir-te sempre de partida
Guardar para mim todo este amor que me rouba a vida
Não ter respostas, a quem curioso vai perguntando.

E neste sentir...sou assim a mal amada
Esperar?!...Diz-me tu, não vale nada?!
Por um amor que eu terei não sei eu quando...

Meu Amor

De ti somente um nome sei, Amor
É pouco, é muito pouco e é bastante
Para que esta paixão doida e constante
Dia após dia cresça com vigor!
Como de um sonho vago e sem fervor
Nasce assim uma paixão tão inquietante!
Meu doido coração triste e amante
Como tu buscas o ideal na dor!
Isto era só quimera, fantasia,
Mágoa de sonho que se esvai num dia,
Perfume leve dum rosal do céu...
Paixão ardente, louca isto é agora,
Vulcão que vai crescendo hora por hora...
Ó meu amor, que imenso amor o meu!

Florbela Espanca

segunda-feira, 17 de março de 2008

Fugir

Colho para ti o que plantei
Dar-te-ia o meu sustento
Rio de mágoas sumarento
Das lágrimas que aqui deixei.

São teus olhos, lugar sagrado
Que abastecem os meus sentidos
De entre sonhos destemidos
Ao abismo me tens guiado.

Fujo agora devagarinho
Que me prendem os sentimentos
Para trás ficam tormentos
Paz inquieta no teu caminho.

Abro os braços, para logo os fechar
Vazios, como os esperava...
Aos outros a quem amava
Cansei...de procurar!...
(24-12-1999)

sábado, 15 de março de 2008

Pecado perdido

Levanto-me todos os dias já cansada
Sem motivos ou razão para frescura
Que até os sonhos me acordam de madrugada
Lembranças tristes de momentos de ternura.

Não tenho vontade de viver assim perdida
Saio na noite a procurar não sei o quê
Sou indiferente a toda a gente, a desconhecida
Passo pelo mundo, por ti e ninguém me vê.

Sou a sombra de um passado já vencido
A luz que apagou num fulgor enraivecido
No desgosto de ter vivido sem o saber...

E ao som deste silêncio magoado,
Choro a tristeza ao ter perdido o meu pecado
Aquele Alguém que nesta vida me soube ver!...
(21-01-2000)

Caminho sozinha

Sigo os teus passos, caminho sozinha
Ficam os sonhos nas pegadas que deixei
Guardados ficam para outros que vierem
Não os posso viver, nesta vida que não amei...

Longe do tempo, da vida e já cansada...
Sonho com o fim desta longa caminhada.
Prendem-se-me às palavras sentimentos de revolta,
Preciso gritar! Ninguém à minha volta...

Horas que passam, piedades desgastadas
Que importa?... Se nada fui para onde vou...
Passam por mim...Saudades de nada...

Caminho sozinha, mas sinto o enlevo
Procuro o destino, liberto o segredo...
Deixo nas pegadas, que apago depois, o silêncio da vida...
Os meus sonhos de nada...
(25-09-1999)

sexta-feira, 14 de março de 2008

De longe vieste

De longe vieste, oh meu Amor
Tão doce ribeira enfeitada
Por entre prantos de dor
São teus lábios a alvorada...

Quizera que fosses tu, oh meu Deus
Inda que não te reconheça
Meus sonhos já são os teus
Em lugares que eu não mereça.

Pulsa dentro de mim, amor ardente
Estranho sinal, de paz, a escuridão
Alegre figura, o sol que me mente
Agarra a verdade, estendo a mão

Afasta de mim a triste risada
Nas horas que passam, a noite sorri,
Aflora o desejo, a noite gelada,
De longe vieste...Amor que não vi!...
(30-09-1999)

quarta-feira, 12 de março de 2008

Fora de mim

Estou de coração apertado
Num silêncio amargurado, enquanto a noite foi caindo.
Chego a casa e não te vejo, falta-me o teu sorriso o teu beijo para me deitar em harmonia.
Sobra espaço, falta alegria, e choro.
Sei que estás bem, mas não estás comigo…
Não pensei ser tão difícil, meu amor pequenino
Saber-te longe…não era preciso…

terça-feira, 11 de março de 2008

O primeiro dia

Nada melhor para começar, que o regresso à infância…
Tínhamos seis, sete anos, ou menos e também mais.
Tínhamos todo o tempo do mundo, e tantos sonhos…