quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
Minha saudade não larga
Certa casa abandonada.
E sinto, na boca, amarga,
Essa lágrima chorada
Quando a deixei...
Caía, de leve, a tarde...
E, olhando para trás, vi
Aquela porta fechada.
Nesse momento, senti
Pesar-me a fatalidade
De toda a Vida passada.
Arde
Ainda, nos meus olhos,
A luz do sol que brilhava
Na janela.
Era uma luz amarela;
Uma luz de fim da tarde
Que ainda trago nos olhos...
Ficava ali,
Por detrás da porta verde,
Tudo o que a vida nos perde,
Enquanto nos vai gastando...
E triste e só me parti;
Quem sabe que outros Destinos,
Dolorosos ou divinos,
Procurando...
Francisco Bugalho, in "Margens"
domingo, 15 de novembro de 2009
terça-feira, 6 de outubro de 2009
Versos de ...
Gelava-me o frio gelava
Quando ia ao rio lavar
Passava fome passava
Chorava, também chorava
Ao ver minha mãe chorar
Cantava também cantava
Sonhava também sonhava
E na minha fantasia
Tais coisas fantasiava
Que esquecia que chorava
Que esquecia que sofria
Já não vou ao rio lavar
Mas continuo a chorar
Já não sonho o que sonhava
Já não lavo no rio!
Por que me gela este frio
Mais do que então gelava
Ai minha mãe minha mãe
Que saudades desse bem
Do mal que eu não conhecia
Dessa fome que eu passava
Do frio que nos gelava
E da minha fantasia
Já não temos fome mãe
Mas já não temos também
O desejo de a não ter
Já não sabemos sonhar
Já andamos a enganar
O desejo de morrer
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
só p'ra entreter...
Sempre actual, não há dúvida... e já lá vão 30!
Amanhã será um grande dia/espectáculo, não tenho dúvidas.
Gosto deste teledisco : Xutos/U2?
Quem emita quem? UHmmm...parece-me óbvio!
quinta-feira, 30 de julho de 2009
do meu silêncio...
Falta de tempo, criatividade, desleixo, sei lá!
As palavras simplesmente não fluem, os pensamentos estão desordenados e até a selecção dos meus gostos literários e musicais está difícil.
Sinto, penso, que estou a fechar um ciclo.
Não quer dizer que, tudo o que escrevi e que postei não fossem bocadinhos do meu eu... e que continuem a fazer parte de mim e de quem eu sou mas...mesmo não encontrando bem as palavras, o que sinto é que algo se movimenta ao meu redor... sentimentos, passagens, palavras, gestos, lembranças, pessoas, tudo se mistura e me confunde...
Queria dizer com toda a certeza que...
Sinto(nem que seja por breves instantes) que sou feliz, ou posso sê-lo!
Será que é isso que me assusta?!
(Amanhã tudo poderá ser diferente)
segunda-feira, 29 de junho de 2009
ídolo...por algum tempo
Em tempos também foi meu ídolo, porque não?!
Cantava e dançava como ninguém.
Esta música "obrigaram-me" a cantá-la numa aula, que vergonha que apanhei...tempos bons, mesmo assim...
quinta-feira, 4 de junho de 2009
palavras...
peguei numa folha A4 e escrevi.
sem ordem, sem sentido, sem rasuras...
Brota do rio lágrimas de desejo e vejo-te lá ao fundo como um meio
que permeio e sei-o, não te vejo
Gosto quando me falas, quando te calas, quando me acordas, quando te desculpas
quando me perturbas...
é só dizeres que vou contigo ao postigo, ao longe dos olhares parados, abalados, e muita gente que me rende.
são sonhos que podem vir sem sorrir e desde então, sou coração, amor desilusão,
com sabor a fermento, a desalento e rebento da minha sabedoria
Todo o sabor na tua boca é pouco
o que te desejo, teu beijo, teu peito, infame, não pode salvar-te
e em cada passo que te dou mais me aproximo de mim, por mim, por ti para quê, só não sei quem tem olhares para te fitar, mirar, não para mim...
E assim te digo, amigo, amor, decido
o que fazer, não temo quanto que sabes de mim, nada sei, não quero, ou até quero, mas não me importa, tal porta está fechada.
Fechou-a o vento com o desalento da fogueira, a braseira, apagou-se e em casa de solar estás lá a brincar, esperas-me.
Encontar-te é difícil, teus caminhos não se cruzam com os meus, teus olhos são azeitonas que se sobram não se desejam e quem me faz sofrer, faz-me prometer não ter mais p'ra quem lutar.
Vou um dia atirar-me ao mar (...)
A paz que te devo levo-a comigo, para ti não sei sonhar, amar, não tenho o que me deves, gostava que me levasses, daqui para ali, somente... mas minha mente me confunde,
não posso não saber, se a vida me atrofia, sentida, resfria, não, não me comprometas, meus sentimentos são sinceros onde a luz não chega.
Fecha os olhos verás-me ao longe e tão longe quanto as estrelas, vou ser feliz, vou brilhar, porque o amar assim não faz sentido, temido, sem sabor, sem amor!
fim (terminou o papel)
Para a próxima, experimento o papel de cenário...
terça-feira, 19 de maio de 2009
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o Mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e, enfim, converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía.
Luís de Camões
domingo, 17 de maio de 2009
sábado, 9 de maio de 2009
Amanhecer...
O mar estendia-se à minha frente como uma manta, essa que me aqueceu toda a noite.
Foi uma noite linda.
Liberta de qualquer preconceito, fui simplesmente eu.
Falei, falei, falei e também ouvi muito, ri, sorri e ri mesmo às gargalhadas.
Hoje sinto-me leve, apaixonei-me de novo, por mim, pela vida!
domingo, 3 de maio de 2009
terça-feira, 28 de abril de 2009
Perdida em ti
Vagueio pelas ruas inquieta
Que importa?...Que importa para onde vou,
Se só em teus braços a porta aberta!
Saudades, de quem que sinto agora?
Meus olhos se fecharam não sei porquê
A ternura que me embalava, onde mora?!
A luz que se apagou, ninguém te vê!
Mas sinto em mim que ando perto,
De encontrar o céu aberto
De esquecer onde me perdi...
Pois, onde me leva o esquecimento,
Que é tão inconstante como o vento
Cada vez mais perto de ti...
domingo, 5 de abril de 2009
Não importa se for uma gota só
Mafalda Veiga
"Uma Gota"
Eu sinto os teus passos,
na escuridão
Pressinto o teu corpo
no ar, aqui
E vou como se o mundo todo fosse
sugado para dentro de ti
E não houvesse nada a fazer
senão deixar-me ir
Pressinto os teus gestos,
quando não estás
Procuro os teus sonhos,
perdidos
E hoje mais que qualquer outra noite
Há qualquer coisa que me fere
Que me faz querer tanto ter-te aqui
não importa
se às vezes tudo é breve como um sopro
Não importa se for uma gota só
De loucura
que faça oscilar o teu mundo
E desfaça a fronteira
entre a lua e o sol
Se o gesto cair assim,
despedaçado
se eu não souber
recolher, a dor
se te esperar a céu aberto
onde se esconde
O que tu és que eu também sou
É que hoje mais que qualquer outra noite
Há qualquer coisa que me fere
Que me faz querer tanto ter-te aqui
Não importa se às vezes tudo é breve como um sopro
Não importa se for uma gota só
De loucura que faça oscilar o teu mundo
E desfaça a fronteira entre a lua e o sol
Não importa
Não importa...
sábado, 4 de abril de 2009
Ah, a Esta Alma Que Não Arde
Não envolve, porque ama,
A esperança, ainda que vã,
O esquecimento que vive
Entre o orvalho da tarde
E o orvalho da manhã.
Fernando Pessoa
domingo, 29 de março de 2009
Era e não era
no monte da vinha
andava lavrando
com bois que não tinha.
Chegou a notícia
de que o pai morreu
e a mãe ainda não nasceu.
Ficou sem saber
o que fazer...
Pôs os bois às costas
e o arado a comer.
Foi roubar avelãs
veio o dono das maçãs,
atirou-lhe com um pepino
acertou-lhe num artelho
correu o sangue até ao joelho.
Obras de António Mota em "O livro das Lengalengas 1"
sábado, 7 de março de 2009
Perder
foi movimento em cerne opaco e frígido...
E quando sei que este momento eterno
em mim percorre sulcos, veias, sonhos,
outro momento abraça-me o porvir —
e desconheço a margem onde navegar,
onde aportar o peso do caminho.
Perder é começar. Por isso a ténue sombra
desenha no sigilo os abismais instantes
onde existiu, uma vez, qualquer destino exacto.
António Salvado, in "Na Margem das Horas"
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
sábado, 17 de janeiro de 2009
Da ausência
A lembrança do teu rosto
Que por ti foi rasurada,
Pela ausência do teu encosto.
O senhor é parvo
o senhor é parvo
parvo é o senhor
Senhor dos passos
Paços do Concelho
Conselho de Ministros
Ministro da Guerra
Guerra Junqueiro
Junqueira Alcântara
Alcântara Mar
Mar da China
China Xangai
Xian-Kai-Xeq
xeque-mate
mate o senhor
o senhor é parvo
parvo é o senhor
Senhor dos Passos
(continua indefinidamente)
Obras de António Mota in o "Livro das Lengalengas 1"
Esta lengalenga é a preferida (do livro) e foi hoje a escolhida pelo menino meu consultor.
Parece-me um pouco uma lengalenga dos tempos modernos(intervenção/invenção chinesa), pois a que conheço e que deixo para outra ocasião não era bem assim...não, não...
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
Temos, todos que vivemos
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Fernando Pessoa
segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
O mar...
sábado, 10 de janeiro de 2009
Noites geladas...
Sombras encontradas
Noites esquecidas
Noites geladas.
Pássaros que cantam
Aqui e agora,
Pensamentos que fogem
Nos navios de outrora.
Busca o silêncio
Procura o destino
Sente o coração
O sonho de menino.
Goza da paz
Do sofrimento do momento
Noites geladas,
Vazio ou esquecimento?...
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
Pedido
Agradeço o envio, a quem queira partilhar as suas fotografias comigo.
Obrigada.
Pique Pique
eu piquei,
grão de milho
eu achei,
fui levá-lo
ao moinho
não moeu,
foram lá os ladrões
que me levaram os calções.
Obras de António Mota in o "Livro das Lengalengas 1"
Esta não conhecia, nem um bocadinho, foi escolhida por um menino...
Mas prometo outras...
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
Amigo
Inaugurámos a palavra «amigo».
«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
«Amigo» (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!
«Amigo» é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.
«Amigo» é a solidão derrotada!
«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!
Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'